Umas dezenas de anos passados, só os estudantes é que, normalmente, tinham férias. E com eles os respectivos professores. Até os próprios funcionários do Estado ou das Autarquias raramente se aproveitavam dessa regalia legislativa, e muitos só utilizavam as férias quanto tinham de empreender alguma viagem.
Com a vinda, para as Ilhas, de funcionários continentais, esses mesmos acumulavam as férias – e podiam fazê-lo até três meses – para irem às terras de origem, pois era impossível, com os ordenados que auferiam, fazê-lo todos os anos.
Até alguns dos estudantes que frequentavam cursos superiores no continente – nos Açores não os havia – não vinham todos os anos a férias, pois era impossível, para muitas das famílias, suportar as despesas das passagens nos barcos da Insulana, que outros não havia.
Para os estudantes as férias iniciavam-se nos primeiros dias de Julho, normalmente, e iam até aos princípios de Setembro. A abertura das aulas dava-se na primeira semana de Outubro. Para os que estudavam em ilhas diferentes da sua, a menos aqueles que frequentavam o Liceu da Horta, e poucos eram, o “Carvalho Araújo” era o transporte único. E que mal se viajava. Muitas vezes sem “acomodações”!...
Na vinda a férias aproveitavam-se os iates do Pico, o primeiro que chegasse e partisse, pois a ânsia era enorme de ver os seus, a terra, os lugares onde nasceram, onde se criaram e brincaram, onde frequentaram a escola primária e os amigos que atrás ficaram. A viagem demorava, normalmente, umas horas mas, quantas vezes eram elas tormentosas e de fome. Os barcos não tinham restaurante nem mesmo bufete. Todavia a ânsia de chegar a casa tudo suportava e esquecia.
Hoje é tudo diferente. Embora de custo elevado para muitas bolsas, os transportes são quase diários. Vem-se a casa, sempre que necessário, em qualquer dia da semana. E se o chamado “fim de semana” é prolongado, permite “dar uma saltada” a casa.
Mas, mesmo assim, com todas essas facilidades, a juventude não se prende à terra. Em completando o curso, deixa-se ficar pela cidade onde fez os estudos “à procura de emprego”. E não interessa qual seja ele. Importa é ficar pelas terras maiores, para assim poder melhor “gozar a vida.” E as famílias “que se lixem”. E a terra “que se amanhe”.
Há excepções honrosas. Há jovens que voltam e que se dedicam com amor à terra onde estão o pai, a mãe e os irmãos e onde foram eles também criados, pois, actualmente, nem todos nascem, por imperativo de uma lei infeliz, na terra dos pais.
Desculpem a divagação, mas julgo que representa uma realidade da época actual.
É uma sociedade em transformação. Para melhor ou pior? Em pouco tempo, ou seja em poucos anos, isso verão os que cá ficarem...
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